O tecido de fios entrelaçados

casal-maos-dadas
O mundo é um mistério, cheio de pistas, com o encantamento das descobertas.
O nosso dia-a-dia é feito de rotinas e repetições, andando pelos mesmos lugares, vendo a mesma gente, amando variações do mesmo amor. Às vezes, muito de vez em quando, algo novo se revela. Em uma viagem, descobrimos um povo de cultura exótica e fascinante, que se veste em cores dançantes, que canta em ritmos inesperados; ou, então, encontramos uma pessoa que vira os nossos conceitos de cabeça para baixo, que nos leva a ver os cenários antigos com um viés novo. A mais poderosa das descobertas é quando encontramos algo inédito, dentro de nós, que nos faz mudar para sempre.
Só que esse crescimento ocorre, inicialmente, aos poucos. Não conseguimos absorver quantidades enormes daquilo que nos confunde mas faz crescer. Dá indigestão mental; a percepção se torce, as ideias colidem; e, com medo, a gente corre de volta para o conhecido e enfadonho. Perdemos uma oportunidade de crescer cada vez que isto acontece. Até a próxima chance, quando ela vier. Só que essa incapacidade de lidar com o novo impede transformações que, certas vezes, desejamos com todas as forças.
Quando nos abrimos àquilo que há além do nosso quotidiano pequeno, aprendemos a abraçar as mudanças, afastar a estagnação. Com sabedoria, poderemos decidir quais as coisas novas que servem para nós, afastando aquilo que não é bom nem correto, ou algo cujo tempo ainda não chegou.
A verdade é que cada fio que puxamos deste tecido que faz o mundo sempre nos traz algo novo. O novo nos faz amadurecer, abraçar o mistério, entender o coração.
É preciso coragem para afastar a preguiça — eterna desculpa! — e descobrirmos o que há além deste cansado e triste viver comum.
Os ingredientes da ousadia e da mudança são fáceis de encontrar em países distantes, nas culturas que nos surpreendem, nas sombra das pirâmides e no alto de um arranha-céu. Mas o incomum existe também bem debaixo do nosso nariz.
Mais ainda, o inédito existe em nós mesmos.
Uma das descobertas mais deliciosas que podemos fazer nasce ao se pegar o fio de algo cotidiano, bem conhecido, e seguir aquele fio até a sua origem.
Muito do que vivemos aqui na terra é o final da estrada, a ponta do iceberg. Nossa vida se assemelha a folhas de uma árvore, esticadas ao fim de muitos ramos e galhos. Do tronco e das raízes, nós sabemos muito pouco. As energias celestes se originam lá, bem alto, além do conhecimento e acima da compreensão, e vão se entrelaçando e dançando, até serem vistas aqui embaixo como reflexos e efeitos menores de algo muito maior.
Há duas energias que têm esse segredo em si, mas que são tão comuns em nós que as tomamos por coisas terra, poeirinha cotidiana. Não são. Os nomes que damos a elas aqui, por avistamento e observação de seus efeitos mundanos, são energias masculina e feminina.
Não são apenas coisas conhecidas? O masculino não é o homem, e o feminino a mulher? Nada disso. O homem, ou mesmo um animal macho, é um ser em que a energia masculina se faz preponderante, e em uma mulher a energia feminina vai ser mais abundante. Somos apenas representantes de tais forças, as folhas de uma árvore majestosa com as raízes no universo.
A origem destas duas energias está lá no início da própria Criação. As energias opostas dançam, se entrelaçam e se tecem em uma tapeçaria que, com outros fios, geram a própria Vida. É este o estudo da Kabbalah e os pilares da Árvore da Vida, que fala da manifestação de Deus e de tudo o que existe, e analisa o masculino e o feminino em suas energias mais elevadas.
Pois aqui, na gente, humano e pequenino de potencial tão grande, estas duas energias são bem visíveis. A maioria das pessoas nascidas mulheres são mais aptas a exprimirem o feminino, e os nascidos homens tendem a exprimem o masculino.
Sutilmente, em cada um de nós há as duas energias. Todos temos o canal ida, avermelhado e feminino, e o canal pingala, azulado e masculino, ligando e carregando energia entre os nossos chakras. Querendo ou não, todos nós temos ambas energias.
Mas como uma música que pode ser bem ou mal tocada, como uma imagem que se vê em alta ou baixa resolução, estas energias podem variar muito de uma pessoa para outra. É comum encontrar mulheres repletas de energia feminina; mas é em geral uma energia de baixa qualidade, de vibração errática e mundana, uma folha fraca e muito distante da origem dessa força celestial. Homens são também receptáculos do masculino e do feminino em si, frequentemente ignorantes daquilo que é parte deles.

O que é a energia feminina? E a masculina?

Em sua essência, a energia feminina é movimento, sutileza e flexibilidade. Ela entende o múltiplo, observa o detalhe, faz as situações se moverem simultaneamente. (Leia De Deusas e Mulheres).
Em sua essência, o masculino é o impulso, a análise, a definição. Ele lida com o foco, ignora o caos, mantém a firmeza e a disciplina.
Você já viu alguém teimoso, focado em algo que não faz sentido, firme até o ponto do estilhaçar? Esse é alguém com energia masculina de baixa vibração; alguém em quem uma qualidade maior, a firmeza, se corrompeu e virou uma triste intransigência.
Sabe aquela pessoa que fala, e fala, e fala fala fala fala e fala sem nunca definir nada? É alguém com energia feminina abundante e de baixa qualidade — seja homem ou mulher. A energia feminina traz movimento, e se for imatura, será um movimento errático.
Há outros exemplos, tantos quanto há pessoas. Uma moça corta o cabelo e vai, toda orgulhosa, perguntar ao marido: “Você nota alguma diferença em mim?” Ele olha e diz, “Você engordou?” Tal homem pode ser um marido focado, íntegro, com energias masculinas ótimas. Mas se sua parte feminina for fraquinha, não saberá perceber detalhes nem terá sensibilidade, pisando nas flores como um cavaleiro que vai à guerra.
Uma pessoa (em geral uma mulher) com energias femininas de boa qualidade pode realizar um milhão de coisas simultâneas, ser esposa e filha e mãe, buscar as crianças na escola e fazer doutorado, tudo ao mesmo tempo. Os homens têm até medo desse tufão que não entendem — a não ser que tenham, eles também, energias femininas maduras em si.
Em qualquer pessoa, seja homem ou mulher, pode fluir pelo canal ida uma energia elevada, de boa vibração, ligando os chakras. Nesta pessoa surgirão qualidades femininas excelentes: sensibilidade, intuição, flexibilidade, percepção, suavidade. No canal sutil pingala, o ideal é que flua um poder ponderado, focado, firme e generoso, objetivo e claro — características de uma energia masculina madura.
O yogi une as duas, em meditação, para criar o canal por onde a sua força maior, a kundalini, pode subir.
Aprimorar estas energias pouco tem a ver com a opção sexual de cada pessoa. Um homem mestre em usar energias femininas de boa qualidade pode ser um heterossexual, contanto que sua identidade e suas energias sejam preponderantemente masculinas; uma mulher pode manejar o masculino com perfeição, e ainda assim ser muito feminina. Na verdade, essas energias crescem juntas. Quanto melhor um lado nosso, mais o outro tenderá a evoluir e se refinar. O medo de deixar uma energia fluir causa estagnação na outra — e resulta na dor de estarmos empacados e insatisfeitos, impedidos de crescer.
É este o convite secreto, um chamado silencioso no nosso centro. Alcançarmos o fio destas energias que consideramos tão mundanas, corriqueiras e conhecidas: o feminino e o masculino. E seguirmos a linha até chegarmos mais próximos da fonte, deixando para trás as manifestações mais deturpadas dessas lindas forças e buscando aquilo que elas são em seu mais refinado, amando a essência, e nos elevando até ela. Sem as duas energias, não há tecido; e sem a coragem de seguir o fio até o centro, ficaríamos eternamente na periferia, relegados à borda.

É essa a aventura, é esse o desafio. Encontrar (e amar) o novo que se pode buscar dentro de si, na quietude desta vontade de ser mais.

Sathyanatha.

Casa de Yoga- Perdizes- http://casadeyoga.wordpress.com/horarios-das-aulas/


Categorias: Saúde

Diga o que pensa

Gommo Tecnologia Amplementa Agência Digital