Reflexões

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Essa semana estava meditando sobre o casamento, fui convidada a ministrar o casamento de uma querida amiga e refletindo sobre o assunto, tentava buscar explicações que pudessem defini-lo, acabei me dando conta de que quando casamos morre um velho estilo de vida, uma perda que deve ser reconhecida para que uma nova vida nasça. O casamento prevê a oportunidade de uma nova vida, caso permitirmos que a antiga seja abandonada. Assim como a infância deve morrer para a adolescência florescer, e a juventude por mais que a prolonguemos com dietas e exercícios finalmente morrerá para dar a lugar a maturidade. Todo o relacionamento até o mais pleno, tem seus ciclos de começo e fim, pois os nossos sentimentos mudam com o passar do tempo e a medida que cresce a compreensão do nosso parceiro.

Enfim a reflexão sobre o casamento me fez refletir também sobre a morte, aparentemente duas coisas distintas porém tão próximas. 

Desde pequena, assim como todos, estive em meio a perdas, elas começaram com meu cachorro preferido, depois com pessoas queridas e hoje depois de adulta aprendi que a vida é feita de pequenas mortes, ciclos que se fecham pra outros começarem. Aprendi que estou morrendo a cada instante.

Todas essas perdas, me deram desde pequenina uma tal intimidade com a morte que docemente aprendi a aceitar essa relação entre o Efêmero e o Eterno.

A noção e a transitoriedade de tudo é o fundamento mesmo da personalidade de cada um. A vida é finita, efêmera, transitória, curta demais para realizarmos nossos sonhos. Criados de pó, voamos celeremente para o nada.

Os escritores bíblicos usaram uma serie de metáforas para expressar a finitude do ser humano. Para Moises, os homens são breves como o sono, transitórios “como a relva”. Um poeta hebreu anônimo talvez Davi, comprara seus dias a “sombras”. Davi assinala que o homem “floresce como a flor do campo que se vai quando sopra o vento”. Numa passagem clássica, o profeta Isaias proclama que “toda a humanidade é como a relva que murcha”, e toda a sua gloria como as flores do campo que caem”. No novo testamento Pedro cita Isaias para enfatizar a ideia de transitoriedade e Tiago afirma que a vida é como neblina que aparece por um pouco de tempo e depois se dissipa. Entretanto, no mesmo contexto que reconhecem a fugacidade da vida humana, os escritores bíblicos ressaltam a eternidade Divina. Por isso, diante da nossa finitude, temos que buscar a infinitude do Criador. ´E preciso aprender a não se apegar demais ao que é transitório e buscar o que é permanente.

Entre entender intelectualmente que vamos morrer e saber em nosso âmago que isso é real e que a vida vai terminar (e que pode acontecer a qualquer momento) pode haver uma distância enorme, de realização e de vida. A terapeuta e autora americana Judy Cohen escreveu recentemente um texto que lembra e provoca esse tema, num tom conversacional muito interessante de ler — e entender, talvez em nosso âmago. Ela fala com nosso âmago, algo que muitos mestres budistas, indianos e também pesquisadores da mente humana como Freud também tentaram enfatizar, ao mesmo tempo em que mostravam os efeitos nocivos de se manter longe desse entendimento de infinitude.

“ESTOU MORRENDO”

Por Judy Cohen

Você tá morrendo, sabemos né.

Neste momento.

É terminal.

Não importa quanta couve foi comida, quanto filtro solar foi usado, quantos quilômetros de bike acumulados.

Porque? Você acha que se fizer tudo certo não vai morrer?

Você acha que pode afastar a morte e manter-se seguro?

Tipo, pra sempre?

Hum…

Não.

Você. é. Ter. Min. Al.

Você não foi feito pra durar. Nada vivo nesse planeta é feito pra durar.

É tipo uma obsolência planejada.

Então neste exato momento você pode estar pensando que essa é aquela hora de pensar: “Sim, mas…”.

“Sim, mas eu posso manter a morte longe por tanto tempo quanto possível.”

Minha nossa, a arrogância nessa afirmação.

Como se suas pequenas ações pudessem manter a morte longe quando ela está pronta para acontecer.

“Vou manter a morte distante através do poder desse broto de salsa, e pela força das minhas escolhas e das minhas ações.”

Claro que você pode, querido.

Oh, o poder neste pequeno conhecido você.

A força da vida e da morte.

Como se ao ter uma “expectativa de vida” você pudesse forçar a existência a mantê-lo por mais tempo do que ela quer.

Só por ter a expectativa.

Mas a vida deve a alguém alguma quantidade de tempo em particular?

A morte pode ser “prematura” se acontece diante do que seus planos estabeleceram como aceitável?

A existência diz, “Essa é a hora” e boom, você está fora daqui.

Não importa o quão velho você esteja ou quais estratégias você tenha para enganá-la.

Nada é prematuro, enquanto estivermos falando de vida.

Nós humanos acreditamos que podemos controlar esses corpos.

Acreditamos que podemos controlar e enganar a existência.

Achamos que nossas ações podem dizer à vida para ir ou para ficar.

Oh, a auto-importância.

A Importância…

do Eu.

A morte é o aparente fim definitivo da história do eu.

Por isso a tememos tão desesperadamente.

E por isso também nós esforçadamente atribuímos a nós mesmos o controle e a influência que de verdade não temos.

Ainda no… “Sim, mas”?

Talvez você ache que pode escolher matar o corpo, e, dessa maneira, você está no comando do que vive ou morre?

Mas pense a respeito disso e você verá que não, você não pode matar o corpo de verdade se não for a hora de ir.

Pergunte à minha amiga T, que tentou fortemente morrer há alguns anos, dirigindo seu carro em direção ao um desfiladeiro. O carro ficou do tamanho de uma embalagem de pão, e por qualquer razão humana T deveria ter morrido.

Mas ela está aqui anos depois…

Não morreu.

A vida não tinha acabado pra ela ainda.

Ou talvez nós pensemos que podemos manter esse corpo por mais tempo, fazendo as coisas certas?

Mesmo que a maioria de nós conheça alguém que viva com a saúde conforme deve ser – comendo só as coisas certas, correndo todo dia, sem nenhum vício.

Eles seguiram todas as regras, fizeram todas as escolhas certas.

E morreram antes de completar 45 anos.

Vamos encarar.

Não temos saída.

Não estamos no controle dessa coisa.

Não somos os que determinam quão longe tudo isso permanece.

Nós amamos a idéia que podemos controlar.

Mas não podemos.

Não há nada errado em acreditar nisso. Exceto que é uma ilusão.

Sempre existiu uma data de vencimento embutida. Só não sabemos qual é.

Então, por isso, faz sentido viver tão cuidadosamente, tão protegidamente, tão baseado em regras?

Nós temos que culpadamente evitar toda batata frita, todo cigarro, todo sofá estofado?

Queremos passar nossas vidas inteiras tentando não ser o que somos, que é…

Terminal?

Construímos uma vida inteira ao redor da tentativa de sobreviver.

Isso é exaustivo.

E fútil.

Por sorte, pode haver muito poder quando enxergamos que somos terminais não importa o que façamos.

Além disso, e se “viver pra sempre” na verdade significasse outra coisa do que o corpo durasse ad infinitum?

Seria possível que nós nos enganamos a esse respeito?

Digo, claro, ninguém sabe…

Mas poderia ser algo como o que realmente somos é que vive pra sempre, mesmo quando corpo vira pó.

Porque mesmo logisticamente, se não somos esse corpo, porque teríamos que deixar isso aqui?

E para onde iríamos?

O corpo pode terminar.

E onde quer que nós realmente estamos… que necessidade ou razão haveria para “irmos”?

Não ter um corpo, não ser físico, não tem… lugar.

Não tem aqui nem lá.

Significa que está em todo lugar.

E isso significa que não estamos indo embora. Não estamos indo a lugar nenhum.

Então isso poderia significar que sem o sofrimento da história do eu…

E sem a pequenice dos limites do corpo…

Aquele viver-pra-sempre que nós tanto queremos…

É exatamente o que já acontece.

Então quando chegar a hora, talvez nós alegremente digamos tchau-tchau à gordura, à ansiedade, aos peidos e às babas.

Enquanto curtimos a “agoridade” do que realmente somos.

Sem contingências.

Sem sofrimento.

Sem restrições.

Ilimitados pelo físico.

Soltos.

Des-euficados.

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fonte: Dharmalog


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