O silêncio

O poeta Rainer Maria Rilke percebeu que “uma única coisa é necessária: a solidão. A grande solidão interior. Ir dentro de si e não encontrar ninguém, durante horas, é a isso que é preciso chegar. Estar só, como a criança está só”.
Habitualmente solitários em seu ofício e convivendo apenas com seus personagens imaginários, os escritores produzem seus romances, suas novelas, seus contos, suas crônicas, suas poesias. O processo criativo exige esse recuo em que é preciso abraçar a solidão. As obras de arte, as composições musicais são igualmente criadas no momento em que o sujeito se permite estar em sua própria companhia. “Quem não sabe povoar sua solidão, também não sabe estar só no meio da ocupada multidão”, diz-nos o poeta francês Charles Baudelaire.
Uma pessoa, para ser capaz de se sentir bem consigo mesma, precisa ser uma companheira de si própria.
Neste momento em silêncio em seu manancial interior, desligue-se do mundo por algumas minutos e faça uma peregrinação em direção ao seu íntimo, talvez isso possa num primeiro instante te causar um certo desconforto, pois o silencio perturba aqueles que não costumam praticá-lo.
Acostumamos ao ruído do mundo, que embaralha os sentimentos e as nossas percepções, temos medo de nos silenciar, de estarmos em nossa própria companhia e de nos depararmos com nosso proprio rosto. Pois, é nesse momento que os fantasmas aparecem. Ou, como diria Guimarães Rosa, que os demônios nos assustam. Mas, como não toleramos pensar que possuimos defeitos, cometemos erros, enganos; como não aceitamos que é impossível gostarmos de nos mesmos, e do outro, por inteiro, preferimos fugir desse encontro íntimo e, então, buscamos qualquer maneira de nos “distrairmos”.
Pois então chegou o momento de escutarmos o silencio…
Que ele tenha a mudez de um sorriso. Que ele seja de paz. De estar dentro de si e, mesmo sozinho, se sentir confortável.
Silenciar por fora é aquietar por dentro. ´E não temer e talvez esse seja um dos mais difíceis desafios. Não temer para viver inteiro. Sem pés atrás. Sem entregas equivocadas. Sem medos expostos nos olhos, nas mãos.
Andar bem consigo mesmo e disso não se esquecer. Acalmar as agonias. Respeitar o seu tempo porque se conheçe.
Então por um momento acontece o silêncio e percebemos.
O silêncio curativo e amoroso de simplesmente ser.
Tão único porque tão sutil e raro…

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